O principal objetivo desse texto é incentivar implantação de biodigestores em pequenas e médias propriedades, como alternativa viável para combater a contaminação dos mananciais e cursos d’água por dejetos dos animais criados e, ao mesmo tempo, através de sua produção de biogás e biofertilizantes, aumentar a renda dos produtores rurais.
O uso de biodigestores em áreas rurais é de grande vantagem econômica, ambiental e social. Seu uso promove a fixação do homem ao campo, aumenta a produtividade agrícola e a renda do produtor, minimiza o uso de derivados de petróleo e ajuda na recuperação do solo. Além disso, um estudo da Universidade de São Paulo (Referência 3) afirma que quase a totalidade dos ovos de parasitas desaparece do efluente do biodigestor, consistindo em excelente forma de combater algumas das doenças endêmicas, que atingem boa parte do meio rural do país.
Um dos principais problemas gerados pela criação de suínos é a degradação ambiental causada na área devido aos dejetos dos animais. O solo e lençóis freáticos são afetados devido à alta concentração de fósforo nas fezes dos porcos. É comum utilizar os dejetos dos animais como adubo orgânico, sabe-se que dejetos suínos possuem grande capacidade de fertilização se usados de forma correta. Infelizmente, o uso puro e sem tratamentos deste tipo de fertilizante natural não garante a qualidade da adubação nem livra o meio-ambiente da degradação.
Entre os principais componentes poluentes dos dejetos suínos estão o nitrogênio (N), o fósforo (P) e alguns microminerais, como o zinco (Zn) e o cobre (Cu). A ação deteriorante do nitrogênio no solo deve-se à sua transformação em nitrato, o que retarda o desenvolvimento de espécies vegetais na área atingida. O nitrogênio também é capaz de poluir o ambiente na forma de amônia, causando o fenômeno conhecido como “Chuva Ácida”. O excesso de fósforo, assim como de nitrogênio e outros nutrientes favorece o crescimento sem controle das algas nos rios. A decomposição destas algas consome o oxigênio dissolvido na água, fato que compromete o crescimento de espécies aquáticas. Todos esses danos ao meio ambiente são minimizados e até extinguidos se a correta utilização do biodigestor for posta em prática.
Além disso, um dos outros produtos gerados no biodigestor é o biogás, formado de 60% a 70% de metano, que é um gás incolor, inodoro e altamente combustível. Não produz fuligem e seu índice de poluição atmosférico é inferior ao do butano, utilizado nos botijões de gás de cozinha. A produção desse gás reduz, quando não acaba, com a necessidade da retirada de lenha para a utilização nas fazendas, prevenindo a destruição da flora local. Além de poder ser usado na substituição do gás de cozinha também pode alimentar lampiões a gás, um motor destinado a acionar uma bomba d’água, um pequeno moinho ou geradores de energia elétrica. Contribuindo dessa forma para a redução de gastos com contas de energia.
Para efeito de comparação, um metro cúbico de gás gerados equivalem a 0.613 litros de gasolina ou 0.553 litros de óleo diesel ou 0.454 litros de gás de cozinha ou 1428 kw de eletricidade (Referência 2. Fonte: BARRERA, 1993, p. 10). Apesar dos dados terem pequenas divergências entre pesquisadores, são ótimos para se ter uma ideia da capacidade calorífica do gás.
Quantidade de material necessária para a produção de um metro cúbico de gás.
Material | Quantidade |
Esterco de vaca | 25 kg |
Esterco suíno | 12 kg |
Resíduos vegetais | 25 kg |
Esterco de galinha | 5 kg |
Lixo | 20 kg |
Fonte: BARRERA, Paulo. Biodigestores: energia, fertilidade e saneamento para a zona rural. São Paulo: Ícone, 1993, p. 11.
Examinando a tabela acima e considerando que um suíno produz cerca de 2,25 kg de dejetos/dia, são necessários cerca de 5 animais para a produção de 12 kg/diários de dejetos, com consequente produção de um metro cúbico de biogás.
O biofertilizante também é um produto muito valioso no meio rural. Ele facilita a fixação de nitrogênio no solo, e por possuir pH em torno de 7,5, funciona como corretor de acidez, eliminando o alumínio e liberando o fósforo dos sais insolúveis do alumínio de ferro. Isso faz com que o biofertilizante seja um ótimo aditivo para o solo já que mantem os nutrientes em formas aproveitáveis para as plantas.
Infelizmente o uso dos biodigestores ainda é muito ínfimo levando em consideração o potencial de utilização num país como o Brasil, com imensa área rural e grande criação de animais. Foi feita uma pesquisa com os agricultores beneficiados com o projeto da Sra. Rita Maria Bedran Leme Gaspar sobre os principais motivos que impedem a disseminação de Biodigestores (Referência 4), os resultados foram: 43% acham o custo de implementação muito alto, 43% acham que a falta de informações dos produtores leva ao quadro atual e 14% defendem que a estagnação da disseminação é fruto da não utilização do biofertilizante e do biogás gerados.
A utilização dos biodigestores pode e deve ser incentivada em escala nacional. Os benefícios são obtidos em médio prazo e reduziria a dependência de fertilizantes químicos. Aumentando a renda dos donos de biodigestores que vendessem os produtos obtidos e expandindo a agricultura orgânica. Tudo isso contribuiria de forma muito positiva para a conservação do solo e da água no nosso país.
Referências Bibliográficas:
- AVELLAR, Luís Henrique Nobre; CARROCCI, Luiz Roberto; SILVEIRA, José Luiz. Biogás na co-produção: a utilização de subprodutos agro-industriais na geração de energia em unidades co-geradoras. Bioteconologia, Ciência e Desenvolvimento. Novas Tecnologias. 2002. Disponível em: <www.biotecnologia.com.br/bio13/13_g.asp>. Acesso em 17 de set de 2016.
- BARRERA, Paulo. Biodigestores: energia, fertilidade e saneamento para a zona rural. São Paulo: Ícone, 1993, p. 11.
- CASTILLO, Máximo Rugama. El biodigestor: campesino inventa su própria producción de gas. El Nuevo Diário – Nicarágua. 03 de jun. 1999. Disponível em: <www.elnuevodiário.com.ni/archive/1999/junio/biodigestor>. Acesso em 17 de set de 2016.
- GASPAR, Rita Maria Bedran Leme. Utilização de biodigestores em pequenas e médias propriedades rurais com ênfase na agregação de valor: um estudo de caso na região de Toledo-PR. UFSC. 2003. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/85585/224646.pdf> Acesso em 17 de set de 2016.
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